domingo, 31 de outubro de 2010

Tudo Pode Dar Certo


Depois de uma bem sucedida temporada na Europa, onde nasceu filmes como Match Point e Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen retorna a Nova York, sua cidade de origem, para rodar um roteiro que ficou por anos guardado na gaveta como enfeite, como disse o próprio. Tudo Pode Dar Certo tem os elementos que conhecemos nos filmes de Allen, e isso é um alívio.

Boris Yellnikoff (Larry David) é um sujeito que foi professor da Universidade de Columbia, quase foi indicado a um Prêmio Nobel de Física e atualmente dá aulas de xadrez para crianças. Há pouco tempo separado, ele mora em uma espelunca que é chamado de apartamento e tem algumas neuras e ataques de pânico, além de se considerar o único capaz de compreender o caos do mundo. Uma noite, ele depara-se com Melody St. Ann Celestine (Evan Rachel Wood), uma garota do interior que fugiu de casa e pede a Boris para ficar uns dias hospedada em sua casa.

Em Tudo Pode Dar Certo, os diálogos são muito bem trabalhados e encaixa-se com piadas com relação a assuntos sociais, como religião, homossexualismo e tendências suicidas, sem cair nas armadilhas presente em alguns filmes. O uso da narrativa, com o personagem Boris falando diretamente com a câmera cria uma intimidade entre público e produção. O elenco tem como destaque as presenças de Larry David, Evan Rachel Wood e Patricia Clarkson, esta última em ótimos momentos.

Tudo Pode Dar Certo é um típico filme de Woody Allen e mesmo que não seja tão sensacional como foi os novaiorquinos Manhattan e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Mas sarcasmo e o sentimento de frustração visto em outros personagens construídos por Woody estão presentes aqui e oferecer ao Cinema uma neurose apaixonante.

Cotação: 8,5

Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works, 2009)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley Jr., Michael McKean, Henry Cavill, Conleth Hill, Jessica Hecht, Samantha Bee.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Escritor Fantasma


Poderíamos afirmar que a vida imita a arte. No caso de O Escritor Fantasma, filme recente do diretor Roman Polanski, essa afirmação é visível por ser a produção que o cineasta terminou enquanto estava em prisão domiciliar por um crime cometido em 1978, mas O Escritor Fantasma não merece ser lembrado apenas por isso.

No filme, acompanhamos um "ghost writer" (interpretado por Ewan McGregor), que aceita a proposta para terminar as memórias de Adam Lang (Pierce Brosnan), ex-primeiro ministro britânico que vive em exílio numa ilha, com sua esposa Ruth (Olivia Williams). Em meio a conclusão do manuscrito do livro, o escritor fantasma vê-se em conspirações políticas e até em acusações de torturas à Lang.

O que encontramos no decorrer de O Escritor Fantasma é um quebra-cabeças complexo que leva o espectador interpretar a situação e prender a atenção. Polanski entrega uma direção segura, principalmente nos planos finais, colaborando perfeitamente com o trabalho de fotografia e trilha sonora composta por Alexandre Desplat, assim como o elenco bem sintonizado que também merece créditos.

O Escritor Fantasma é uma boa prova de um thriller bem articulado e complexo, mas também bem filmado. È um filme que desperta discussões, não só pela questão da situação que seu realizador passou, mas sim em transportar esta premissa em tempos atuais, em uma época como a das eleições, por isso mesmo que merece ser assistido.

Cotação: 8,5

O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, 2010)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski e Robert Harris, baseado em livro de Robert Harris
Elenco: Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Kim Cattrall, Olivia Williams, Timothy Hutton, Tom Wilkinson, Eli Wallach, James Belushi, Jon Bernthal, Robert Pugh.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ilha do Medo


"O que poderia ser pior? Viver como um monstro ou morrer como um homem bom?"

Ilha do Medo, filme dirigido por Martin Scorsese começa com um clima de incômodo, fazendo com que o espectador entra na pele do protagonista. Mas é uma daquelas produções que é necessário uma segunda vez para uma compreensão total de sua narrativa.

Nos tempos de Guerra Fria, em 1954, os detetives Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) são levados para o Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, localizado na ilha Shutter, Massachusetts, onde investigam o misterioso desaparecimento de uma assassina. Lá, o terrível comportamento e atitudes tanto de outros pacientes quanto dos médicos e Teddy vê lembranças de sua esposa morta voltarem cada vez mais que aprofunda o caso.

Baseado em livro do norte-americano Dennis Lehane, Ilha do Medo traz bem o elemento claustofóbico que a premissa precisa e ganha méritos pela direção ágil de Scorsese, que remete bem a elementos hitchcockianos, assim como a trilha sonora bem executada em belas tomadas. O roteiro tem seus prós, por fazer o espectador criar interpretações da história, mesmo sendo previsível. E a atuação de Leonardo DiCaprio mostra-se intensa e versátil.

Ilha do Medo é uma produção de muitas discussões, pela questão de como a história é conduzida. Um filme que não pode deixar de lado, mesmo sendo "made by Scorsese", é uma premissa que exige certa concentração do espectador para compreender e interpretá-lo. E isso é um belo ponto que o cinema proporciona em nós.

Cotação: 8,0

Ilha do Medo (Shutter Island, 2010)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Laeta Kalogridis, baseado em livro de Dennis Lehane
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, John Carroll Lynch, Elias Koteas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Alice no País das Maravilhas


"Sim, você é louco, louquinho. Mas vou lhe contar um segredo: as melhores pessoas são assim!"

O professor inglês Lewis Carroll inspirou-se em um passeio com sua amiga Alice Liddell, de 10 anos, filha do reitor da Igreja Cristã. Depois de contar uma história para Alice e suas irmãs, o livro que deu fama a Carroll nasceu. Além de ter sido lido por nomes como Oscar Wilde e da rainha Vitória, ganhou algumas adaptações cinematográficas como a animação de 1951 e recentemente sob o comando de Tim Burton.

Baseado em País das Maravilhas e na sequência Alice Através do Espelho, mostra Alice Kingsley (Mia Wasikowska, conhecida pelo seriado In Treatment), que na adolescencia ainda tem sonhos estranhos e está prestes a ser pedida em um casamento arranjado. Confusa, ela depara-se com um coelho branco, que faz com que ela volte ao mundo subterrâneo de seus sonhos de infância. Lá, ela reencontra alguns seres liderados pelo Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), que lidam com a ira do rainha Vermelha (Helena Bonham Carter, a melhor do elenco).

O que poderia esperar de Alice no País das Maravilhas era toda a essência que Lewis Carroll retratou em sua obra, a maluquice do lugar e a imaginação, que teve graças a parte técnica, como a caracterização de alguns personagens. Outros pontos a favor são os ótimos figurinos e a trilha sonora de Danny Elfman, apesar de repetitiva em alguns momentos. Já a história em si, acaba por enrolar em alguns atos e com excessão de Helena, o elenco não tem muito destaque, mesmo tendo Johnny Depp, Mia Wasikowska, em uma caracterização muito discreta e Anne Hathaway, que não acerta no tom como a Rainha Branca.

Alice no País das Maravilhas é um passatempo digno da intenção que o livro retrata, mesmo com as ressalvas, mas tem a cara de produção assinada por Tim Burton, ou seja, um primor técnico e personagens excêntricos, assim como a imaginação de uma menina que precisa de um último sonho para aprender a crescer.

Cotação: 7,0

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Linda Woolverton, baseado em livros de Lewis Carroll
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Crispin Glover, Stephen Fry, Michael Sheen, Alan Rickman, Timothy Spall, Christopher Lee, Matt Lucas.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Última Música


A Última Música é mais uma obra escrita pelo romancista norte-americano Nicholas Sparks, responsável por obras melosas que ganharam inúmeras adaptações cinematográficas, como Uma Carta de Amor, Um Amor para Recordar, Diário de uma Paixão, Noites de Tormenta e Querido John. Aqui, vemos os elementos dos trabalhos de Sparks, mas mostrado com monotonia e sem comoção.

Ronnie (Miley Cyrus) é uma adolescente que tinha uma afinidade com a música, chegando até a ser aceita na Julliard School, mas recusou a bolsa. A menina tem um comportamento temperamental depois do divorcio dos pais. Ela e o irmão Jonah (Bobby Coleman) vão passar o verão numa cidade do sul dos EUA, onde mora Steve (Greg Kinnear, a melhor coisa do filme). Lá, Ronnie conhece Will (Liam Hemsworth) e começa um romance com ele, além de conseguir retomar a relação com o pai.

A escolha de Miley Cyrus para o papel principal em A Última Música foi equivocada, ao mesmo tempo fraca, por não conseguir passar emoção e lembrar muito a personagem que a tornou conhecida, Hannah Montana. Além desse fator, o roteiro escrito pelo próprio Sparks abusa dos constantes clichês para dar um clima meio forçado para a emoção, principalmente por vezes deixar de lado a relação em família e focar no romance sem química.

A Última Música é um dos exemplos que Nicholas Sparks preocupa-se mais com a indústria do que a literatura, já que pensa primeiro na adaptação antes mesmo de elaborar uma história. Um novelão, diga-se de passagem.

Cotação: 3,0

A Última Música (The Last Song, 2010)
Direção: Julie Anne Robinson
Roteiro: Nicholas Sparks e Jeff Van Wie, baseado em livro de Nicholas Sparks
Elenco: Miley Cyrus, Greg Kinnear, Bobby Coleman, Liam Hemsworth, Hallock Beals, Kelly Preston, Stephanie Leigh Schlund, Nick Searcy, Kate Vernon, Melissa Ordway, Adam Barnett.

sábado, 2 de outubro de 2010

Abraços Partidos


Em Abraços Partidos, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar ainda usa a fórmula conhecida em suas obras, como Fale com Ela e Volver, incluindo referências noir e o uso de cores chamativas para representar a narrativa de sua história. E, aqui, o suspense, o romance e a tragédia estão presentes com uma bela parte técnica.

Mateo Blanco (Lluís Homar), ex-diretor e roteirista cego que passa a adotar o pseudônimo Harry Caine depois de perder sua visão e o amor de sua vida, a atriz aspirante Lena (Penélope Cruz) em um acidente de carro. Ele relembra a época que filmava Garotas e Bolsas, em que Lena era a protagonista e casada com o empresário Ernesto Martel, que desconfiando de traição, tenta impedir a conclusão do filme.

O cinema gira toda a história de Abraços Partidos. È um filme dentro de outro, com citações de outras produções de Almodóvar, como a própria película Garotas e Bolsas. A direção de Pedro tem méritos, apesar de ter algumas sequências meio problemáticas e aparentar um pouco a monotonia. Vale destacar a parte técnica, principalmente a fotografia e a trilha sonora de Alberto Iglesias e também Penélope Cruz, numa atuação notável e naturalmente em sua língua-mãe.

Abraços Partidos pode não ser o melhor que Pedro Almodóvar pode oferecer, mas não pode ser deixado de lado, pela marca e o lado pessoal cinematográfico do cineasta. Longo, sim pela diversidade dos detalhes. Esquecível, não.

Cotação: 8,0

Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, 2009)
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Rubén Ochandiano, Tamar Novas, Lola Dueñas.